jueves, noviembre 21, 2024

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A mais eminente figura da Idade Média

Dr. Plinio tinha grande devoção a São Gregório VII, porque este possuía, mais do que qualquer outro Bem-aventurado que ele conhecia, uma virtude que o entusiasmava ao último ponto, e para a qual iam todas as fibras de sua alma: a combatividade inquebrantável. Esse papa tinha a integridade de alma por onde o homem caminha para todos os esforços, todos os riscos, todos os dissabores, com o intuito de fazer vencer a causa da Santa Igreja.

Temos para comentar um trecho da carta escrita por São Gregório VII à Condessa Matilde, no ano 1074.

Um papa que atacava os vícios e as desordens dos mais poderosos

Entre as armas que, com o auxílio de Deus, eu vos forneço contra as insídias do mundo, lembrai-vos de que as principais são: receber frequentemente o Corpo do Senhor e ter uma confiança segura e completa em sua Santa Mãe.

Gabriel K.
Santo Ambrósio – Museu do Palácio do Bispo Erazm Ciolek, Cracóvia, Polônia

Eis o que diz Santo Ambrósio, no livro quatro “Dos Sacramentos”: “Se nós anunciamos a Morte do Senhor, anunciamos a remissão dos pecados. Se cada vez que o Sangue do Senhor é derramado, o é pela remissão dos pecados, devo recebê-Lo sempre para que meus pecados sejam sempre perdoados. Pecando sempre, devo sempre tomar o remédio.”

No livro quinto “Dos Sacramentos”, o mesmo Santo diz ainda: “Se é um pão quotidiano, por que o recebeis uma vez ao ano, como os gregos costumam fazer no Oriente? Recebei-O diariamente, a fim de que cada dia vos seja proveitoso. Vivei de maneira a merecer recebê-Lo todos os dias.” […]

Quis, filha mui amada de São Pedro, escrever-vos estas coisas, a fim de aumentar a vossa fé e vossa confiança no recebimento do Corpo do Senhor; porque tal é o tesouro, tais são os presentes, não de ouro, nem de pedras preciosas, que, pelo amor de vosso Pai, o soberano dos Céus, vossa alma espera de mim, conquanto possais, segundo vossos méritos, receber de melhor de outros Pontífices.

Quanto à Mãe do Senhor, a Quem principalmente vos recomendei, recomendo-vos e não cessarei de recomendar-vos, até o momento em que tivermos a felicidade de vê-La como nós o desejamos. Que vos direi? Ela, a Quem o Céu e a Terra não cessam de louvar, ainda que não A possam louvar dignamente. Entretanto, considero isto fora de qualquer dúvida: Ela é mais elevada, e melhor, e mais santa do que qualquer mãe. Ela é mais clemente e mais doce para com os pecadores e as pecadoras convertidos. Empenhai-vos, pois, em pôr cobro ao pecado e, prosternada diante d’Ela com coração contrito e humilhado, derramai as vossas lágrimas. Vós A encontrareis, prometo-vos, sem qualquer dúvida, mais pronta do que uma mãe carnal, e mais terna em vos amar.

Comenta o Padre Rohrbacher:

Essa carta do Papa São Gregório VII é muito notável. Mostra-nos uma maravilha que o mundo não compreende. Esse gênio poderoso que com um olhar abarcava todos os reinos, todos os bens e os males da humanidade, que atacava ao mesmo tempo e por toda parte os vícios e desordens dos mais poderosos, que não se arreceava de nenhum obstáculo, que parecia aos homens de seu tempo mais firme e mais inquebrantável do que o céu e a Terra, esse gênio poderoso tinha […]uma ardente devoção à Santa Eucaristia, uma confiança filial na Santa Virgem, uma terna compaixão para a fraqueza humana.1

Alegria de Deus com o pecador que se converte

São trechos de um grande Santo e comentários de um grande autor.

Em primeiro lugar, a respeito do Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o que está dito é que o pecador não deve afastar-se da Sagrada Eucaristia. Pelo contrário, ele precisa recuperar o estado de graça e voltar a frequentar este sublime Sacramento. Isso porque o Deus de misericórdia, ao invés de afastar o pecador, o atrai. Ele não aceita na Sagrada Eucaristia o homem no estado de pecado, mas arranca o pecador desse estado pela perspectiva de receber o banquete celeste e o atrai a Si. De maneira que, quando alguém comete pecado, não deve afastar-se da Eucaristia; pelo contrário, o mais depressa possível precisa confessar-se, recolocar-se no estado de graça e voltar à Sagrada Eucaristia.

Porque é imensa a alegria de Deus com o pecador que se converte. Ele a exprime bem no Evangelho quando fala da mulher que perdeu uma moeda, procurou-a por toda parte e, tendo-a encontrado, chama as amigas e mostra a sua alegria pelo encontro da moeda. Ou, então, com o exemplo do bom pastor que vai procurar a ovelha tresmalhada ao longe, e a traz nos seus ombros para o aprisco.

Quer dizer, Deus ama singularmente o pecador arrependido. E ao perdoar o pecador verdadeiramente contrito, Ele tem uma razão para amá-lo mais do que antes. É por isso, por exemplo, que Santa Maria Madalena foi mais amada por Nosso Senhor depois de se converter do que antes de pecar. São essas as amplitudes da misericórdia divina.

Não há coisa que seja mais frequente do que encontrarmos nas almas uma ação do demônio que põe a coisa nestes termos: “Você está em estado de pecado, não comungue, nem se aproxime de Deus. Onde é que se viu que um pecador de seu jaez vá se aproximar de Deus em estado de pecado! Você é louco, isso não tem propósito, fuja!”

Flávio Lourenço
Pregação de São Bernardo Igreja Notre-Dame, Dijon, França

Ora, o certo é o contrário: “Você está em estado de pecado mortal, venha correndo para Aquele que é o Médico de sua alma, o seu Redentor, com toda a humildade, batendo no peito, lamentando o mal que fez, é verdade, mas venha com confiança porque a porta da misericórdia estará aberta.”

São Pio X desferiu na Revolução um dos mais terríveis golpes

Compreendem-se, assim, os problemas da expansão da Igreja e o bem prodigioso feito por São Pio X com o seu projeto de reafervoramento eucarístico.

Nós vemos aqui São Gregório VII, apoiado em Santo Ambrósio, pleitear a Comunhão diária. Como é sabido, antes do tempo de São Pio X, as pessoas mais piedosas comungavam duas ou três vezes por ano. Isso era observado para ter mais respeito para com a Eucaristia, de maneira a, mantendo-se bem afastado, o fiel fizesse uma arquipreparação para a Comunhão. Dir-se-ia até ser uma atitude esplêndida. Mas, generalizando a frequência à Sagrada Eucaristia, São Pio X desferiu na Revolução um dos mais rudes e terríveis golpes que se podia dar. Especialmente com a Comunhão das crianças. O império do demônio dificilmente é tão grande numa alma que recebeu o Santíssimo Sacramento, como seria se essa alma nunca O tivesse recebido.

Portanto, a insistência para que os fiéis vão ao Santíssimo Sacramento tem por detrás, doutrinariamente, uma insistência para que o pecador procure Nosso Senhor e, sem desfalecer, amparado na bondade d’Ele, vá mais uma vez ao seu encontro. De maneira que uma pessoa, por mais que peque, nunca deixe de se confessar, com um propósito sério de não mais pecar, segundo pede a Igreja, e comungar, aproximando-se assim das fontes das águas que é o Santíssimo Sacramento.

Harmonia total e inebriantemente bela do perfil moral da Mãe de Deus

O que o São Gregório VII diz a respeito de Nossa Senhora é também uma verdadeira maravilha:

…considero isto fora de qualquer dúvida: Ela é mais elevada, e melhor, e mais santa do que qualquer mãe. Ela é mais clemente e mais doce para com os pecadores e as pecadoras convertidos.

Aqui está um princípio de moral que nos é muito caro: quem tem uma virtude em muito alto grau, possui também todas as outras virtudes em grau elevado. Não é possível a pessoa ser verdadeiramente muito elevada em outras virtudes, sem ser ao mesmo tempo muito misericordiosa. Porque, se ela é muito virtuosa, tem de um modo insigne todas as virtudes e, portanto, também a misericórdia.

Então, quanto mais eu falo da grandeza da Santíssima Virgem e nos seus altos privilégios, tanto mais devo me convencer de que Ela, entre outras qualidades excelsas, tem a de Mãe terníssima, benigníssima, intimíssima, que Se põe na estatura de cada um de seus filhos para tratar com eles como as mães fazem habitualmente com suas crianças.

Compreende-se, assim, como a harmonia celeste da alma de Nossa Senhora é feita: tão mais alta do que todos os querubins e serafins, a ponto de estar fora de qualquer termo de comparação com tudo quanto o restante da Criação possa ter de mais superlativamente magnífico. Entretanto, apesar disso, Ela é a mais meiga, a mais terna de todas as criaturas, a que mais entra na proporção e no contato com cada homem, de maneira tal que se um de nós tem uma mãe que considera ser muito carinhosa, esteja certo de que Nossa Senhora a excede indizivelmente em afabilidade, meiguice e carinho.

É assim que a devoção a Maria Santíssima deve ser vista. E jamais me cansarei de ensinar isso, porque Ela nunca Se farta de dá-lo a entender a seus filhos de todos os modos: aparições, milagres, etc.

A ação de Nossa Senhora sobre a Terra consiste em mostrar que Ela é simultaneamente terrível como um exército em ordem de batalha – esmagando continuamente a cabeça da serpente, derrotando sozinha todas as heresias do mundo inteiro; Nossa Senhora dos Cruzados, dos Inquisidores, dos Santos indomáveis na luta pela Fé, como foi São Gregório VII – e, ao mesmo tempo, Mãe bondosa dos pobres, fracos, desvalidos, pequeninos. É a harmonia total e inebriantemente bela do perfil moral da Mãe de Deus.

Varão intrépido, batalhador indomável

Na ficha lida há pouco, o Padre Rohrbacher mostra como São Gregório VII foi um pontífice indomável.

Eu tenho a impressão de que – e é a razão de minha veneração e ternura por São Gregório VII – ele foi chamado a prestar na História da Igreja, mais do que qualquer outro Santo que eu conheça, uma virtude que me entusiasma ao último ponto, e para a qual vão todas as fibras de minha alma: a combatividade inquebrantável. Ele combateu tudo, lutou contra todos, não cedeu em nada e enfrentou tudo.

Essa integridade de alma por onde o homem caminha para todos os esforços, todos os riscos, todos os dissabores, com o intuito de fazer vencer a causa da Santa Igreja, me entusiasma.

No entanto, por ser muito combativo, São Gregório VII necessariamente tem que ter também em alto grau as virtudes simétricas ou opostas. Assim, precisamente por ter muita combatividade, ele devia ser também um devoto ardentíssimo de Nossa Senhora, muito terno, meigo, e um ardorosíssimo devoto do Santíssimo Sacramento, inculcando formas de piedade extremamente suaves, como a da frequência diária ao Santíssimo Sacramento e a devoção à Santíssima Virgem.

Flávio Lourenço
São Gregório VII – Convento de Santa Clara, Monforte de Lemos, Espanha

É como São Bernardo, que foi pregador de Cruzadas e o autor da “Salve Rainha”, do “Lembrai-Vos”, orações de uma unção extraordinária! Pregador de Cruzadas e chamado “Doutor Melífluo”, quer dizer, de quem flui o mel pela doçura de sua pregação a respeito de Nossa Senhora. Ele não teria estado à altura de compor a “Salve Rainha” e o “Lembrai-Vos” se não fosse um homem com uma alma de um pregador de Cruzadas. Mas, por outro lado, não seria verdadeiramente um pregador de Cruzadas se não tivesse a alma de um homem tão doce, capaz de compor essas orações. As duas coisas se completam, uma seria impossível sem a outra.

Vemos, assim, as almas grandiosas de São Bernardo e de São Gregório VII, mas este último ainda mais caracteristicamente um varão intrépido, batalhador indomável que encheu com sua luz todo o céu da Igreja até nossos dias e a iluminará até o fim dos tempos.

Cada apóstolo dos últimos tempos deve ser como que um outro São Gregório VII

Eis o grande Santo cuja relíquia se encontra em nossa capela. Que felicidade e tesouro contidos simplesmente nesta afirmação: a relíquia desse Santo se encontra em nossa capela! Quer dizer, é um fragmento dos ossos dele, uma matéria momentaneamente dissociada, mas que numa ordem mais profunda forma um só todo com sua alma gloriosíssima que já está no Céu vendo a Deus face a face, e contemplando Nossa Senhora.

Esse fragmento, no dia da ressurreição da carne, vai ser unido ao corpo dele. Portanto, temos certeza de que esse pedaço de osso com um pouco de carne será inundado pela glória de Deus e se transformará em corpo glorioso, participando das alegrias da visão beatífica que São Gregório VII tem no Céu.

Compreende-se, então, com quanta devoção devemos nos aproximar dessa relíquia, e quanta confiança precisamos ter em sermos atendidos, tendo-a presente entre nós.

Anna Catarina Emmerich2, várias vezes, viu relíquias deitando chispas de luz magníficas. Essa luz deveria ser um símbolo da virtude do Santo a quem aquela relíquia pertencia. Que luz de ouro, luz solar estupenda deve espargir essa relíquia de São Gregório VII que, a meu ver, na sua grandeza e riqueza de alma, foi a mais eminente figura da Idade Média e conteve em si, de algum modo, a Idade Média inteira.

Eu não poderia encerrar estas palavras sem lembrar que estamos na Festa de Nossa Senhora Auxiliadora, ocasião em que Ela se mostra particularmente solícita em nos auxiliar em nossas necessidades e atender nossos pedidos. Creio não haver intenção mais grata do que esta: que Nossa Senhora Auxiliadora faça de nós, o quanto antes, perfeitos apóstolos dos últimos tempos, segundo São Luís Grignion de Montfort.

Se São Gregório VII tivesse podido conhecer os apóstolos dos últimos tempos, ele estremeceria de alegria, porque cada um deles deve ser como que um outro São Gregório VII, ou seja, deve ter aquela combatividade, aquela grandeza, aquela suavidade.

(Extraído de conferência de 24/5/1967)

1) ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas, 1959. v. IX, p. 193-196.

2) Freira agostiniana alemã favorecida por Deus com muitos dons místicos (*8/9/1774 – †9/2/1824). Foi beatificada em 3 de outubro de 2004.

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