Há séculos combatida por numerosos adversários, a Igreja Católica Apostólica Romana vem passando — dizia Dr. Plinio — por uma verdadeira Via Crucis.

O auge dessa situação resultou na descristianização de vastos setores da sociedade do Ocidente. Assim, “países inteiros e nações”, afirma o Papa João Paulo II, “onde a religião e a vida cristã foram em tempos tão prósperas e capazes de dar origem a comunidades de fé viva e operosa, encontram-se hoje sujeitos a dura prova, e, por vezes, até são radicalmente transformados pela contínua difusão do indiferentismo, do secularismo e do ateísmo” (Christifideles laici, 33). Como não considerar uma tragédia a crise de fé na divindade de Cristo (cfr. Novo Millennio Ineunte, 22), que atingiu de alto a baixo as nações do Ocidente?

Muitas vezes, contemplando em toda a sua envergadura essa desoladora situação, Dr. Plinio a comparava a uma renovação, na história da Igreja, dos passos da Paixão do Homem-Deus: ela agoniza no Horto das Oliveiras, é flagelada, coroada de espinhos, coberta de zombarias, condenada à morte.

Contudo, sempre pervadido por inabalável esperança, ele fazia questão de assinalar que, no caso da Santa Igreja, tal processo sempre termina numa como que gloriosa “ressurreição”. Tanto mais que a Esposa mística de Cristo é imortal por promessa divina. Por isso, é até impróprio falar de ressurreição; mais se trata de um reflorescimento.

Com esse fundo de quadro é que, numa de suas famosas Vias-Sacras, publicada no Legionário em abril de 1943, expressava com força sua certeza no vitorioso soerguimento da verdadeira Religião em todo o seu esplendor:

“Hoje, a muitos olhos, as possibilidades de restauração plena de todas as coisas segundo a lei e doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo parecem tão irremediavelmente sepultadas quanto aos Apóstolos parecia irremediavelmente sepultado Nosso Senhor em seu sepulcro. Os que têm devoção a Nossa Senhora recebem d’Ela, entretanto, o inestimável dom do senso católico. E, por isto, eles sabem que tudo é possível, e que a aparente inviabilidade dos mais ousados e extremados sonhos apostólicos não impedirá uma verdadeira ressurreição”.

Por que esse privilégio de discernimento dos devotos de Maria? Porque Ela é “protetora da fé”: “Tudo parece ter fracassado. Mas Ela sabe que nada fracassou. Em paz, aguarda a Ressurreição”. Ela “nos ensina a perseverar na fé, no senso católico e na virtude do apostolado destemido — ‘Fides intrépida’ — mesmo quando parece tudo perdido. A Ressurreição virá logo. Felizes dos que souberem perseverar como Ela, e com Ela. Deles serão as alegrias, em certa medida, as glórias do dia da Ressurreição.”

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Neste início de terceiro milênio, é patente que estão sendo derramadas sobre a Igreja graças abundantes de reflorescimento, palpáveis nas comemorações jubilares do ano passado. O Papa o assinala, recordando a promessa de Nosso Senhor: “Eu estarei sempre convosco, até o fim do mundo” (Mt 28, 20), e lembra que “esta certeza …. acompanhou a Igreja durante dois milênios e foi agora reavivada em nossos corações com a celebração do Jubileu” (Novo Millennio Ineunte, 29).

É esta a certeza de que estava imbuído Dr. Plinio.

Ao surgirem no horizonte os primeiros raios que anunciam a aurora, nosso pensamento se volta com admiração e gratidão para quem foi um exemplo vivo do homem de fé, recordando-nos de uma frase por ele cunhada para fortalecer nossa confiança: “É à noite que é belo crer na luz!”