Lembrando a soberania espiritual e moralizadora da Santa Igreja, a Catedral de Notre-Dame de Paris sobressai no panorama urbano da capital francesa

A crise generalizada na qual se debate a sociedade contemporânea tem como causa central a decadência do próprio homem. Uma reforma durável não ocorrerá senão por obra da Igreja Católica, “fator inigualável de moralização dos povos”. Esta tese, defendida por Dr. Plinio há cerca de setenta anos numa entrevista para a “Folha da Noite”, torna-se mais verdadeira do que nunca neste caótico início do terceiro milênio.

O século XX vota um culto supersticioso ao Estado, de quem espera a solução para a crise contemporânea. Por esta razão, não costuma ser atribuída à ação social dos católicos a importância e o alcance que, na realidade, tem.

Sem querer diminuir a importância do papel do Estado, que tem na hora presente gravíssimas responsabilidades, cumpre notar que o Estado, por si só, não está em condições de solucionar a crise contemporânea. Efetivamente, é suficiente um exame sucinto da situação moral, social e política do mundo moderno, para nos persuadir disto.

O estado de luta parece ter-se tornado habitual para os homens e as nações hodiernas. Na família, a luta se estabelece entre os cônjuges, esquecidos de seus deveres recíprocos, e desejosos de direitos sempre maiores. Entre pais e filhos, também não reina harmonia, pois que a autoridade paterna parece, para a mocidade de hoje, um jugo cada vez mais pesado. Lutam entre si as classes, que formulam, umas contras as outras, reivindicações sempre maiores, procurando ao mesmo tempo subtrair-se ao cumprimento dos respectivos deveres. Enfim, lutam nações contra nações, estimuladas pelo orgulho nacional e pelo desejo de maior expansão econômica.

A razão deste estado de coisas deve ser procurada muito menos nas leis modernas do que na mentalidade do homem contemporâneo. Um desejo imoderado de prazeres e o horror ao cumprimento do dever são suas duas grandes características. E ambas as características derivam do egoísmo que domina hoje toda a humanidade. Enquanto o homem continuar aferrado a este individualismo sem limites, não será possível estabelecer qualquer reforma durável na sociedade contemporânea.

Ora, a ação do Estado é totalmente impotente para operar a reforma dos caracteres. É certo que o Estado pode defender a moralidade pública. Não é menos certo, porém, que ele não pode edificar a moralidade pública ou privada.

Os que desejam restaurar a civilização cristã devem abraçar resoluta e exclusivamente o Catolicismo, única expressão autêntica e completa da doutrina de Cristo.

Ora, enquanto o Estado é impotente para esta tarefa indispensável, a Igreja é um fator inigualável de moralização dos povos. Realmente, ela os submete a uma disciplina intelectual e moral perfeita, que, ao contrário do protestantismo, submete os atos de cada homem não ao julgamento sempre suspeito de suas próprias consciências, mas a um tribunal superior cheio de austeridade e ao mesmo tempo rico em benignidade. Por outro lado, pelos motivos que a Religião Católica dá ao homem de amar a Deus e de desejar a felicidade eterna, bem como pelo temor da condenação, ela proporciona ao espírito humano os estímulos mais eficientes que se possam conceber para induzi-lo à prática do bem. Assim, a Igreja é a grande moralizadora dos povos. E ela o provou em inúmeros episódios históricos como, por exemplo, quando encaminhou ao martírio na antiguidade legiões de virgens, ao passo que o culto da Vesta pagã perecia porque o paganismo não podia mais suscitar em Roma o número de virgens necessário ao culto do fogo sagrado.

Por outro lado, o Estado tem uma atuação meramente nacional. E a reedificação da ordem social não pode depender da ação de um país, mas de uma atuação supernacional, afetando simultaneamente o mundo inteiro e agindo com uma inteira unidade de pensamento e de direção.

E não é do protestantismo que se deve esperar tal ação supernacional. Também dos cismáticos nada se pode esperar. Alguns procuram estabelecer um modus vivendi, doutrinário com o comunismo e outros tendem ao catolicismo. Por outro lado, negando a supremacia do Bispo de Roma, as igrejas cismáticas renunciaram implicitamente à possibilidade de desenvolverem qualquer ação mundial, porque nenhum de seus bispos reconhece qualquer autoridade espiritual que lhe seja superior.

Assim, se aqueles que desejam restaurar a civilização cristã querem alcançar a vitória, não devem limitar-se a aceitar um vago pan-cristianismo, mas devem abraçar resoluta e exclusivamente o Catolicismo, única expressão autêntica e completa da doutrina de Cristo.

(Transcrito da “Folha da Noite”, São Paulo, de 1/10/1935. Título nosso.)