“Na vida humana, sinais e símbolos ocupam um lugar importante”, ensina o Catecismo da Igreja Católica. E acrescenta logo depois: “Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e símbolos materiais” (nº 1145).

Como já pudemos salientar mais de uma vez, Dr. Plínio considerava ser necessário ao homem saber olhar para as criaturas, de modo a degustar aqueles sinais que nos remetem para realidades superiores, não permitindo que nosso pensamento se prenda tão-só a considerações de ordem material.

Com efeito, a criação reflete a bondade, a verdade e a beleza de Deus, e por isso temos a obrigação de contemplá-la procurando crescer no conhecimento do próprio Criador, conforme diz a Escritura: “Pois é a partir da  grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece seu Autor” (Sb 13, 5).

Esse é o ápice almejado por nós pela consideração do universo. Contudo, há patamares inferiores que nos auxiliam a galgar até esse cimo. Neles a alma ainda não se volta diretamente para o sobrenatural, mas se deleita no mundo das analogias, dos símbolos, das correlações. Na linha da escolástica, Dr. Plinio valorizava ao máximo essa contemplação metafísica, fundamental para nossa formação. O Papa João Paulo II aponta para sua importância, na Encíclica “Fé e Razão”: “Os conhecimentos fundamentais nascem da maravilha que nele [homem] suscita a contemplação da criação: o ser humano enche-se de encanto ao descobrir-se incluído no mundo e relacionado com outros seres semelhantes, com quem partilha o destino. Parte daqui o caminho que o levará, depois, à descoberta de horizontes de conhecimentos sempre novos” (nº 4).

Não só o mundo mineral, vegetal e animal, saído diretamente da mão de Deus, se presta a tal contemplação, mas também as obras do homem nos campos da arquitetura, pintura, escultura, arte dos vitrais, costura, urbanismo, jardinagem, etc., sobretudo quando produzidas por espíritos profundamente católicos, desejosos de exprimir pelo pulchrum a existência de realidades mais elevadas. Era esta uma convicção de Dr. Plinio, e ele foi um praticante exímio e constante da consideração enlevada dessas maravilhas.

Na presente edição, convidamos o leitor a vê-lo explicitar a riqueza de impressões que a vista do Castelo de Saumur lhe causou. Especialmente rica e original é a identificação de similitudes daquela construção com estados da alma humana.

Mais do que o mundo material, agradava a Dr. Plinio observar seus semelhantes. Podemos acompanhá-lo, nestas páginas, numa rápida viagem à África, em 1952, procurando discernir na raça negra aqueles valores únicos que deverão brilhar com a máxima intensidade, quando esse continente, todo ele convertido fervorosamente à fé católica, tornar-se um feudo da Santíssima Virgem.

Entretanto, dentro de seu próprio lar, Dr. Plinio teve durante décadas um raro objeto de contemplação: sua mãe, Dª Lucilia, cuja vida — segundo Frei Antonio Royo Marín, O.P., um dos maiores teólogos de nossos dias — foi a “de uma verdadeira santa”. Na série sobre essa virtuosa dama, que estamos publicando desde nosso primeiro número, encontramo-la na ocasião em que fez 70 anos. Aproximemo-nos dela também, e vejamos o “magnífico reluzimento de uma velhice florida, a que se acresceriam os reflexos de prata da ancianidade”.