Poucos homens tiveram uma vida tão movimentada como a de Dr. Plinio. Quem se debruce sobre os registros de sua biografia constata que seu dia-a-dia se constituía de uma incessante atividade, enfrentando com energia e serenidade as dificuldades esperadas ou imprevistas próprias a quem dedicou sua vida a combater pela Santa Igreja. Batalhador incansável, eis aí um dos traços mais notáveis da existência desse líder católico, cuja única ambição era servir à Igreja, em favor da qual colheu muitas vitórias.

Vitórias, não se conquista sem luta. E luta, não se trava sem sacrifício. Assim, toda a longa trajetória terrena de Dr. Plinio ficou marcada pelos tons violáceos do sofrimento. Sofrimentos para esmagar os obstáculos ao seu propósito de nunca macular a própria alma com o pecado; para conservar a serenidade ante a incompreensão e ingratidão até de seus mais próximos colaboradores; para enfrentar com ânimo as terríveis provações espirituais que assaltam toda alma posta nas vias da santidade. Por cima de todos esses padecimentos, o esforço contínuo para manter desfraldado e bem alto o estandarte da luta contra os inimigos da Igreja.

Somente um homem dotado de profundo espírito sobrenatural e de ardente piedade dispõe de forças suficientes para suportar sem desfalecimento as inúmeras situações dramáticas decorrentes desses combates interiores e exteriores.Uma das fontes onde Dr. Plinio hauria essas forças era a meditação a respeito da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tocava-lhe a alma de modo especial a inabalável decisão do Homem-Deus, de aceitar o oceano de dores que via aproximarem-se.

“Nosso Senhor é o modelo infinitamente perfeito do cavaleiro. Agonia, em grego, significa luta. O Divino Salvador tomou a imagem da dor e da morte, procurou primeiro afastá-la e depois enfrentou-a. Há uma semelhança entre a agonia de Nosso Senhor com a vigília de armas dos cavaleiros”, comentou ele.

Foi com essa firmeza, haurida no exemplo de nosso Redentor, e com toda a paz de alma que Dr. Plinio enfrentou suas dores: “Quando posto diante de todo o sofrimento que O esperava, Jesus disse: ‘Se for possível, afaste-se de mim este cálice. Mas seja feita a vossa vontade e a não a minha’. Deve ser esta nossa posição diante de nossos sofrimentos particulares. Assim como veio um Anjo consolar Nosso Senhor, assim também a graça nos consolará nos sofrimentos”.

Procurando forças no episódio do Getsêmani, Dr. Plinio as buscava também n’Aquela que foi a estrela que iluminou sua vida. Esta disposição de alma, ele a exprime numa meditação o sobre o Primeiro Mistério Doloroso do Rosário:

“Renunciastes a tudo, neste passo, e até à companhia física e sensível de vossa Mãe. Entretanto, tivestes uma consolação que não Vos abandonou: a certeza de que, em espírito, Ela esteve conVosco, sofrendo absolutamente todas as vossas dores, com um amor e uma intensidade de participação que nenhuma linguagem humana é capaz de exprimir. […] Desejo pedir-Vos uma graça. É possível que me reserveis ao longo da vida tormentos inexprimíveis. É possível que durante estes tormentos não tenha de Maria Santíssima nenhuma consolação sensível. Eu Vos peço, entretanto, que não permitais que nesses momentos se apague de meu espírito a convicção de que em toda a realidade Ela está ao lado de mim, como esteve ao lado de Vós. Pois isto só, quanto conforta, Vós mesmo o sabeis, Divino Jesus.”*

* Catolicismo, 10/1951.