Ser como um pai e uma mãe no seio de sua família, eis o ideal de autoridade, segundo Dr. Plinio. É a ideia que ele retoma ainda na sua última obra, “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à Nobreza romana”1.

Assim, é na família – uma entidade privada e básica que constitui para a Nação e para o Estado uma “fonte de vida […] autêntica e borbulhante” (p. 106) – que se deve buscar as características do verdadeiro relacionamento entre autoridade e súditos.

Ao desenvolver esse tema, Dr. Plinio prefere ilustrar seu pensamento analisando o que se passa numa família numerosa, na qual “reinam” o pai e a mãe, os quais são objeto não só do respeito, como também da veneração e do amor dos filhos, cuja principal causa de alegria consiste em estar reunidos em torno deles. “E, sendo os pais de algum modo um bem comum de todos os filhos, é normal que nenhum destes pretenda absorver todas as atenções e todo o afeto dos pais, instrumentalizando-os para o seu mero bem individual. O ciúme entre irmãos encontra terreno pouco propício nas famílias numerosas” (ibid., p, 108).

Os progenitores, ao mesmo tempo que velam pela ordem e pela disciplina no lar, de um modo mais protetor que repressivo, são movidos pelo sentimento de benquerença e imenso amor por aqueles que Deus confiou a seus cuidados.

Eis, pois, o modelo de autoridade que Dr. Plinio propõe para todos os âmbitos da sociedade, e que nos tempos passados constituíam a delícia das relações sociais, proporcionavam uma vida pacífica, livre de invejas e de comparações. Vem ao caso mencionar um exemplo muito do agrado de Dr. Plinio, tirado da história de Portugal: depois da batalha de Aljubarrota (1385), perguntou-se a um combatente como fora possível a um exército tão pequeno, como o português, sair vitorioso na refrega contra tropas muito mais poderosas. A resposta foi imediata: “Nosso Rei venceu porque seu exército não é de soldados, mas é de filhos!”.

Assim, a autoridade fiel à sua posição tem verdadeiro afeto por seus súditos e, em compensação, recebe deles essa forma de fidelidade filial.

Na seção “Dr. Plinio comenta”, da presente edição, ele volta à tese de que, quando um bom pai manda no bom filho, tem-se o auge da disciplina. Aquele que exerce a autoridade deve fazer o possível para estabelecer esse teor de relações com o súdito.

E recordando a cerimônia de coroação da Rainha Elizabeth II, da Inglaterra, cercada do carinho e admiração de todo o povo, ele conclui: o principal fundamento disso é o amor e, secundariamente, o temor. “Eles se amam porque se compreendem”; “e aquilo dura um reinado inteiro”.

1) Porto: Civilização, 1993.